Uma administração séria e competente
O que você faria se assumisse um cargo de diretor em uma empresa que, além de ter graves problemas em todos os setores, também tivesse uma dívida consolidada em mais de 100%? Essa foi a realidade encontrada por Alberto Mourão ao assumir a prefeitura de Praia Grande (SP), em 1993. Havia ainda um agravante: o prazo para quitar o débito da Administração e os juros acumulados era curto. Com isso, o poder de realização referente ao orçamento anual do município estava altamente comprometido.
Sem contar a estrutura desnecessária de comissionados que a prefeitura possuía, chegando a ter mais de 2.800 empregados nomeados, assumindo ainda mais déficit fiscal e social, e aumentando a falta de credibilidade do contribuinte – que cada vez mais pensava em ir para outra cidade, já que não via retorno algum do dinheiro que pagava em IPTU, por exemplo.
A realidade catastrófica do município na época
O que se encontrava na cidade era assustador, com um futuro nada promissor. Afinal, quem acreditaria em um lugar onde as casas tinham esgotos a céu aberto em frente às portas, mal existia viatura para fazer a segurança na cidade e só possuía apenas uma ambulância? Além das praias, que eram manchetes de jornais devido à falta de balneabilidade e ao lixo que se via por toda parte. Era realmente complicado ver um futuro positivo diante de tantos problemas, não é verdade?
Além disso, a esperança de muitos governos em conseguir sanar parte deles com os recursos vindos dos pagamentos feitos pelos contribuintes do IPTU não era uma realidade para Mourão, pois existia um alto índice de inadimplência na cidade – que era tão desvalorizada, que os imóveis e terrenos tinham baixo valor de mercado.
Aliás, em uma época em que o sistema de pagamento não era informatizado, ele fazia planilhas à mão para diminuir o risco de duplicar remunerações, além de corrigir outras falhas na estruturação financeira. Havia também falta de controle e fiscalização no sistema de salários, em que 10% da folha de empregados ganhava muito, enquanto os professores, por exemplo, recebiam apenas um salário mínimo.
Contudo, na mente do então prefeito, se problemas não faltavam, vontade e estratégias para solucioná-los também não. Criatividade, racionalização dos gastos, parcerias e priorização nas decisões fizeram a crise se transformar em oportunidade – inclusive, estas sempre foram diretrizes que nortearam as Administrações de Mourão.
“Um governante não pode ter medo da pressão social. É necessário que ele estabeleça prioridades e tenha inteligência emocional” – Alberto Mourão.
O resgate da cidade
Ciente de que para resgatar a receita do município precisaria trazer o turista para Praia Grande, Mourão sinalizou que grandes mudanças estavam por vir quando urbanizou determinado trecho da Orla da Praia e também a avenida Ayrton Senna.
Com isso, críticas vieram, porque muitas pessoas achavam que ele não se importava com a periferia, mas, com trabalho sério e dedicação, seguiu conforme o planejado e logo toda a cidade foi beneficiada. Afinal, como sempre disse: “Para trabalhar com política é preciso suportar pressão e estabelecer prioridades”. Poucos anos depois, as críticas se transformaram em elogios e todos entenderam a estratégia adotada pelo prefeito.
Esforço e empenho que deram resultados
Ao final do primeiro mandato, Mourão reduziu a dívida da cidade, que quando assumiu estava em mais de 100%, para 20% e renegociou todos os débitos, voltando a dar capacidade de investimento e dinâmica administrativa ao município.
Em suas demais administrações, colocou ainda diversas leis no Plano Diretor da Cidade, melhorando o sistema viário, o plano de macrodrenagem, a reestruturação de canais e os planos de uso e ocupação de solo.
Além disso, sempre pautado pela prioridade de investimentos e pela credibilidade, inclusive com os fornecedores, mudou o planejamento orçamentário, de acordo com a capacidade de gerar receita do município.
Sua administração foi baseada a partir do estudo de como era possível elevar a receita, sem necessariamente aumentar os impostos, baixando o índice de inadimplência e buscando o crescimento econômico para poder ter ganhos em outros tributos – sempre estabelecendo um decreto de execução orçamentária, antes de se tornar obrigatório, evitando assim o descontrole financeiro.
Reconhecimento
Para muitos, o sucesso de Alberto Mourão em conseguir mudar tanto a realidade de uma cidade está no fato de pensar com a visão de um empresário, como realmente ele é. Contudo, suas estratégias não foram somente pautadas pelo raciocínio empresarial
Seu entendimento sobre políticas públicas e como elas funcionam também foi essencial, o levando a obedecer aos ciclos de cada uma e a identificar suas respectivas necessidades, como a constatação do problema, a formulação da solução, a tomada de decisão, a implementação, o monitoramento e a avaliação dos resultados – um ciclo fundamental para aqueles que desejam transformar crises em oportunidades.